sábado, 19 de março de 2016

Vespa Velutina leva Terra Chã à Assembleia da República

Pela sua importância para a saúde pública e a biodiversidade, passamos a transcrever, na integra, a notícia publicada, em 13/03/2016, pelo Semanário Região de Rio Maior. Também nos congratulamos pela acção e empenho, da Cooperativa Terra Chã, no sentido de alertar, informar, formar e esclarecer os cidadãos comuns assim como as entidades oficiais, para os perigos inerentes ao aparecimento desta espécie no nosso território. Com a cooperação de todos será mais eficaz o controle desta espécie invasora e predadora.
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Vigilância e controle da Vespa Velutina leva Terra Chã à Assembleia da República.

O tema Vespa Velutina veio para ficar. E é importante que todos saibamos do que se trata… e como se trata!

Não só por ser uma vespa com alta capacidade de predação e de expansão territorial (provocando gravíssimos prejuízos nos setores apícola e agrícola), como se isso, por si só, não bastasse para que as autoridades estivessem de olho no problema, mas também por facilmente se adaptar ao meio envolvente. Isto significa que a Vespa Velutina pode ser encontrada tanto em zonas naturais, como em zonas urbanas e periurbanas, sendo precisamente isso que se tem verificado nas zonas do país já colonizadas pela vespa. Em várias dessas zonas tem havido problemas de saúde e de segurança do cidadão comum.

A falta de informação ou, pior, a desinformação, é o primeiro ponto que leva a que algo corra de mal a muito mal. Foi com este intuito que, a convite do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, a Cooperativa Terra Chã pôde dar o seu contributo para o tema em discussão.

No passado dia 12 de fevereiro, a Cooperativa Terra Chã compareceu na Assembleia da República onde também estiveram presentes a Federação Nacional de Apicultores de Portugal, a Associação de Apicultores do Parque Natural de Montesinho, a Associação Apícola do Minho, a Associação de Apicultores do Cávado e do Ave, a Associação de Apicultores do Norte de Portugal, a Confraria do Mel, especialistas na problemática da Vespa Velutina, nomeadamente o Prof. Dr. Paulo Russo Almeida, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e o entomólogo José Manuel Grosso Silva, assim como Marco Portocarrero, especialista em captura de vespas e eliminação dos seus ninhos. Marcaram presença a Direção Geral de Alimentação e Veterinária e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. Estiveram ainda presentes vários apicultores, nomeadamente João Tomé, que faz desta atividade sua profissão, assim como alguns cidadãos com interesse no tema.

Nesta audição também participaram deputados do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista.

A mensagem transmitida pela Cooperativa Terra Chã foi clara e suscitou unanimidade entre os presentes:

1º – É necessário que o Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal seja efetivamente implementado em todo o território e que todos os organismos com responsabilidades de coordenação e de controlo assumam isso mesmo;

2º – É essencial que o cidadão seja informado, para que saiba distinguir a vespa, os danos que provoca e a quem ligar caso tenha avistado um ninho ou Velutina;

3º – É imperativo que todas as entidades envolvidas com a proteção do cidadão sejam alvo de formações técnicas para estarem preparadas para o devido combate;

4º – É importante que todas as Câmaras Municipais possam adquirir material de proteção e de controlo dos ninhos de Vespa Velutina;

5º – É vital que seja montada uma zona tampão, com armadilhas seletivas que funcionem como alarme assim que a primeira vespa chegue a esse território ainda não afetado;

6º – É crucial que a destruição dos ninhos avistados seja feita o mais planeada e rapidamente possível, para que esse ninho não seja um ponto de partida para o aparecimento de novos ninhos no ano seguinte.

Esta mensagem foi também claramente percebida pelos deputados das forças políticas presentes. Daqui espera-se que surjam frutos e em tempo útil, para que o problema da Vespa Velutina em Portugal não se alastre e cause danos irreversíveis na biodiversidade, na economia gerada pelos setores apícola, agrícola e florestal, assim como na segurança do próprio cidadão.

Por parte da Cooperativa Terra Chã, os seus associados e formandos já começaram a obter a informação necessária e esse trabalho continuará a ser feito. É para trabalhar em benefício da apicultura, da biodiversidade e da segurança da população que a Cooperativa Terra Chã se predispõe a dinamizar ações de divulgação e de formação à população em geral e às entidades envolvidas no tema, despistar qualquer avistamento de vespas ou ninhos, assim como em participar na monitorização da expansão da vespa e no planeamento e destruição dos ninhos avistados.

Fonte: Cooperativa Terra Chã (Chãos – Alcobertas – Rio Maior)

quarta-feira, 9 de março de 2016

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

O Projecto de Cidadania "dar a vez e a voz aos cidadãos", Assinala o Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 8 de Março, desde 1910, por proposta de Clara Zetkin, em homenagem à dura luta travada em 1857 pelas operárias de uma fábrica têxtil em Nova Iorque.

Desde então, através da luta pela emancipação, a igualdade e a dignidade das mulheres, inserida numa perspectiva mais vasta de libertação da humanidade de todo o tipo de opressão e exploração, já muito foi alcançado, mas muito ainda falta realizar.

Recorremos a um singelo poema escrito por uma nossa jovem concidadã, Inês Ferreira, quando tinha apenas dezasseis anos de vida, ou nas palavras da própria: " Tenho 16 anos desde há poucos minutos, por isso, desculpem se acharem que não posso falar muito.", para homenagear todas as mulheres que não desistem de lutar por um mundo melhor.
Apesar das enormes dificuldades com que se confrontam todos os dias das suas vidas, assim como as mais variadas descriminações, injustiças e explorações a que estão sujeitas, desde horários e ritmos de trabalho intensos e desumanos, a mais mil e uma tarefas "domésticas". 


Triste mundo
 
Triste este país onde se emigra para ir fazer noutros países o
que os que lá vivem não querem fazer, quando se critica os que
vêm para cá fazer exactamente o mesmo,
Triste este mundo em que vivo e, por outras vezes, as-
sisto onde ao chegar não se ouve "Boa noite. Como foi
o teu dia?" mas sim: "Então? Já recebeste? Já depositaram o
dinheiro?"

Triste este espaço que chamamos "o nosso planeta", mas que
constantemente destruímos,
Triste está grande parte do mundo, onde pessoas morrem de
obesidade quando noutra parte outras morrem à fome.
Triste este mundo onde se gasta dinheiro para matar pessoas
quando outras morrem por não ter dinheiro.
Triste este mundo por cada pessoa em que nele habita.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

RUY BELO: " A POESIA É UM ACTO DE INSUBORDINAÇÃO..."


Rui de Moura Ribeiro Belo nasceu a 27 de Fevereiro de 1933, em São João da Ribeira, concelho de Rio Maior.
Nesse mesmo ano, a 19 de Março, era aprovada a nova Constituição num plebiscito em que as abstenções foram contadas como votos a favor. E assim terminava a ditadura militar e se consolidava/instituía a fascista. Os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, teoricamente reconhecidos no seu artigo 8.º, eram abolidos na legislação regulamentadora que mantinha a censura prévia, impedia o exercício  do direito de livre associação política e sindical e instituía a polícia política (PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) sob controle directo do presidente do Conselho de Ministros. Polícia política, que também perseguiu, vigiou e controlou a vida de Ruy Belo.

Porque inquieto e subversivo com as palavras " A poesia é um acto de insubordinação a todos os níveis, desde o nível da linguagem como instrumento de comunicação, até ao nível do conformismo, da conivência com a ordem, qualquer ordem estabelecida." 
Falamos "... do homem que, ombro a ombro com os oprimidos, empunhando a palavra como uma enxada ou uma arma, encontrou ou pelo menos procurou na linguagem um contorno para o silêncio que há no vento, no mar, nos campos."


              CANÇÃO DO CAVADOR

Não há cavador só do exterior
Desgastou-o a terra tornou-se terra
fechou-lhe a boca gretou-lhe a pele
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
Da fome é sua cor é tão pobre que não conhece o calor
a vida mirrou-o o senhor usou-o
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
 Fez um poço tão fundo que cabe lá dentro o mundo
a terra fez nele uma ferida e ele deixou a mulher parida
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
Arroteou montes fez correr fontes
regos rugas na cara que o choro fura
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior 
Ele a cuspir nas mãos e a cavar a chuva a cair o sol a queimar
em casa a mulher foi casar e fiar parir e chorar
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
A terra deixou de dar teve de emigrar
e embora estar fora lhe doa a tudo ele se afeiçoa
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
Cava tudo a eito arranca uma pedra tem uma pedra no peito
uma lasca de pedra num olho e é já de terra o seu corpo velho
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
A enxada sobe a enxada desce e o campo de grão floresce
sai de casa quando o dia nasce volta quando a noite desce
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
Há mãos suas na bandeira do milho na espuma roxa do vinho
passou-lhe até para o gosto o travo do mosto
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
A courela dá a água a flor mas o cavador dá apenas dor
vem de volta da vida só traz uma enxada
não há cavador só do exterior

Não há cavador só do exterior
Só tem pele e osso deixou as palavras nos dias de moço
foi moço e foi forte mas entranhou-se-lhe no corpo a morte
não há cavador só do exterior

Bibliografia consultada:

RUY BELO – Todos os Poemas, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000, pp. 267/8 e 478/9

História Universal - Imperialismo Moderno; Guerras Mundiais; A Década de 80, Círculo de Leitores, Lisboa, 1990, p. 255    

domingo, 14 de fevereiro de 2016

RUY BELO, POETA E CIDADÃO UNIVERSAL

Sophia de Mello Breyner Andresen, escreveu no seu poema

Cantata da Paz

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
...


Nos idos de 1973, Ruy Belo escreveu o poema que passamos a transcrever:


A GUERRA COMEÇOU HÁ TRINTA E QUATRO ANOS


Enquanto nesta manhã tão calma tão horizontal tão lisa
que me apetece passar-lhe a mão pelo dorso certamente dócil
manhã sem nenhuma ruga na testa e com uma superfície total
que talvez se possa medir em quilómetros quadrados
manhã primeira parte de um dia que agora
depois de ter olhado o relógio sei ser o dia um de setembro
enquanto nesta manhã como aliás nas demais manhãs dos dias de praia
vou lendo atento o jornal e aqui sentado com o mar ao fundo sei
entre outras coisas que o navio-escola sagres voltou ao tejo
e que um soldado morreu como quase sempre por acidente em angola
e que há serras em chama no funchal chamas talvez destruindo
sítios porventura importantes na evolução da acção de um romance que ando
                                                                                                              a ler
de súbito sei e não só sei mas sinto com uma sensibilidade mais funda
que a guerra começou faz hoje trinta e quatro anos
Eu era então muito novo tão novo que sentia necessidade de me encostar à
                                                                                                        janela
e olhava talvez sem os ver os pauis que havia nas traseiras da casa
Não sei se fazia mais alguma coisa mas lembro-me que estava
junto à janela de costas voltadas para a penumbra e olhava os pauis
e esperava que a minha mãe se acabasse de arranjar para irmos todos
ao som de guizos e do trote do cavalo à feira de rio maior
onde nunca mais voltei mas sei que havia muitas barracas muitas pessoas
o gado todo a um lado e no meio do calor e do pó
sabia bem beber sofregamente o líquido gasoso de um pirolito
após uma leve pressão no berlinde de vidro que obstruía o gargalo da garrafa
Devia sentir-me um pouco inquieto o soalho rangeria sob os passos
alguma coisa oscilaria na habitual monotonia da minha infância
quando ouvi dizer à minha mãe ou a alguém que o viera à pressa dizer
à minha mãe que a guerra tinha começado
Eu não devia saber nesse tempo muito de guerras mas havia ainda
gaseados da primeira grande guerra na minha pequena terra
lembrava-me da chegada precipitada de grupos de gente
fugida em grandes carroças da guerra de espanha
pressentia que muitas pessoas na guerra ficaram a morder para sempre a terra
Na feira de rio maior donde o meu pai lembro-me sempre voltava
com cadeiras de madeira de choupo e cebolas para todo o ano
já os ardinas por entre a poeira apregoavam os jornais
repetindo os dizeres dos grossos títulos da primeira página
onde de uma maneira ou de outra se dizia que a guerra tinha começado
E no meio daquela poeira muita gente comprava o jornal e ficava
a saber por si que a guerra tinha começado e as circunstâncias
mais ou menos pormenorizadas em que tinha começado
Em grupos de gente aqui ou ali na terra de barro vermelho
falava-se alto de dantzig de varsóvia das diligências empreendidas pelas chan-
                                                                                 celarias anglo-francesas
das seis cidades polacas nesse dia bombardeadas pela aviação alemã
Os dias depois começaram de novo a correr eu em casa do médico
seguia nos mapas o avanço das tropas alemãs
via na cidade inúmeros filmes ingleses americanos e franceses
assistia a conferências da alliance française e como no filme casablanca
cantava-se a marselhesa. Eu saía sozinho da sala
era noite na rua e então eu saboreava na boca as sílabas lentas
da vagarosa da vigorosa palavra liberdade
palavra perigosa por vezes proibida quase sempre mais ou menos discreta-
                                                                                       mente controlada
A comida faltava nesse tempo via-se bem que faltava
formavam-se compridas bichas à porta das lojas
o próprio pão era pouco na praia comíamos pão de batata vindo de alfeizerão
Um dia alguma coisa no céu do tempo se modificou lembro-me que
apedrejaram na cidade a sapataria onde antes se distribuía
a propaganda nazi outra palavra pairava no ar
era a palavra paz palavra pequena e grande
Quase toda a gente da cidade saiu para as ruas
sem eu perceber porquê um homem a meu lado foi preso ao dar um viva à rússia
a bandeira do consulado inglês ondulava ao vento entre as árvores
dançava-se nos largos até homens com homens dançavam havia
uma grande fogueira no quintal ao lado da casa onde eu estava
ficámos todos a falar longamente pela noite dentro
Faz hoje precisamente trinta e quatro anos que a guerra começou
a manhã de hoje é horizontal e lisa sem rugas na testa
o sol ilumina os seus muitos quilómetros quadrados de superfície
fecho o jornal e de súbito sem eu próprio saber bem porquê
sinto pena de que agora que a guerra acabou quase há vinte e oito anos
mais um soldado tenha morrido por acidente em angola

RUY BELO – Todos os Poemas, Círculo de Leitores, Lisboa, 2000, pp.476 a 478.

Nota: Ruy Belo, neste poema, transporta-nos até aos acontecimentos e suas consequências de quatro guerras, a saber: Primeira Guerra Mundial (1914/1918); Luta Contra a Implementação do Fascismo em Espanha (1935/1938); Segunda Guerra Mundial (1939/1945); e, Guerra Colonial, levada a cabo pela ditadura fascista de Portugal, onde morreram nove mil jovens portugueses, catorze mil ficaram deficientes físicos e cerca de cento e quarente mil com traumas de guerra (1961/1974). 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Rede de Economia Solidária nascida em Chãos

Nascida e criada em Chãos rede portuguesa de Economia Solidária.


Terra Chã na conferência sobre economia solidária em Portugal.
Terra Chã na conferência sobre economia solidária em Portugal.
No dia 17 de outubro de 2015 reuniu na Cooperativa Terra Chã, na aldeia de Chãos (Alcobertas – Rio Maior), a Assembleia Geral da Rede Portuguesa de Economia Solidária, registando a participação de 35 pessoas, quer em nome individual, quer de diversas organizações.
O processo de formação desta rede de conhecimento, de processos e de experiências de uma OUTRA ECONOMIA começou na aldeia de Chãos, no dia 22 de novembro de 2014, com a realização do seminário “economia social e solidária, um caminho para o desenvolvimento do local” com a presença de especialistas franceses, espanhóis e italianos e cerca de 90 participantes de diversas universidades e institutos politécnicos, cooperativas, associações e investigadores.
A pertinência do debate levou a que se equacionasse a formação de uma plataforma portuguesa de economia solidária com o objectivo de valorizar e tornar visíveis as experiências  e os processos que se reclamam de uma outra economia e de clarificar e enriquecer o conceito e os conteúdos que dão sentido à Economia Solidária.
Constituiu-se um grupo de trabalho que reuniu regularmente, tendo marcado para o dia 8 de agosto de 2015 uma primeira Assembleia Geral, na aldeia de Chãos. Vinte pessoas participaram na reunião e decidiram criar a Rede portuguesa de Economia Solidária, discutindo um Manifesto, com princípios orientadores, objectivos e propostas de ações, mandatando, ainda, uma Comissão Coordenadora para a dinamização do processo.
No dia 17 de outubro aconteceu na aldeia de Chãos a 2ª Assembleia Geral. Rumaram a Chãos 35 pessoas em representação de cooperativas, associações, universidades, grupos informais e em nome individual que reclamam uma visão de economia plural, geradora de produção, de trocas, de consumos, de rendimentos, de poupança e investimentos onde não podem ser estranhos conceitos e práticas como a Solidariedade, a Ecologia, a Diversidade Cultural, a Reflexão Crítica, a Democracia Participativa e o Desenvolvimento Local.

É preciso uma outra economia que respeite a vida, a diversidade, a solidariedade emancipatória não caritativa, que valorize a equidade e a transparência.

Júlio Ricardo, elemento diretivo da Cooperativa Terra Chã e da Comissão Coordenadora da RPES reafirma a “pertinência de uma economia alternativa que respeite valores, pessoas, a ecologia e a democracia. A aldeia de Chãos tem desenvolvido um processo de desenvolvimento local a partir de uma nova abordagem económica onde se conjuga cultura local, respeito pela natureza, pela biodiversidade e criação de riqueza local. Este processo tem sido reconhecido, objeto de estudo e de investigação e resolvemos desencadear este processo de criação da Rede de Economia Solidária para dar visibilidade e dinamizar uma profícua cooperação entre pessoas, organizações e instituições. Tivemos em Chãos três Universidades Portuguesas (ISCTE, Universidade de Coimbra e Universidade do Porto) e investigadores franceses e catalães e é tempo de unir esforços e partilhar experiências”.
Na Assembleia Geral do dia 17 de outubro, apresentaram-se e ratificaram-se os 45 membros fundadores, definiram-se os critérios de admissão de novos membros e formaram-se grupos de trabalho com a responsabilidade de pensar a formalização da rede, estruturar a rede a nível do país e ainda conceber um plano de atividades.
Júlio Ricardo disse que “se prevê, para 2016, a realização em Chãos de uma Universidade de Verão de Economia Solidária, tendo como animadores professores universitários europeus e brasileiros de Economia Solidária, destinada a estudantes de mestrado, doutoramento, outros investigadores e estudantes interessados”.
Este processo que se iniciou em Chãos continuou no dia 5 de dezembro, na cidade de Coimbra, com nova assembleia geral.

Excerto de texto publicado na imprensa catalã, referindo a aldeia de Chãos, a propósito da constituição da Rede Portuguesa de Economia Solidária, assinado por um professor da Universidade de Barcelona.

Una buena noticia recorre la península ibérica. Se ha creado la Red Portuguesa de la Economía Solidaria (RPES). Hace aproximadamente un año, en un encuentro celebrado en Chaos, pequeña aldea situada en el centro de Portugal, Rogerio Roque Amaro, profesor del ICSTE, universidad en la que desde hace más de diez años existe un doctorado de economía social y solidaria, lanzó la idea de  crear una red de economía solidaria en Portugal. Después de una primera sorpresa, el reto lanzado fue recogido por un conjunto de personas y organizaciones que se coordinaron para materializar dicha idea.
El 8 de Agosto de este verano se llevó a cabo la asamblea fundacional en Chaos donde desde hace muchos años se desarrolla una de las experiencias más interesantes de la economía solidaria de nuestro vecino país. En esta reunión, los miembros fundadores adoptaron diferentes decisiones: elaborar un manifiesto y un logotipo, crear unos grupos de trabajo, difundir el proyecto, adoptar unos criterios de entrada, que han sido discutidas y mejoradas. Una Comisión Coordinadora  ha preparado la asamblea general que ha tenido lugar este 17 de octubre.
Texto: A. J.

Nota: pelo seu interesse e importância publicamos na integra este artigo publicado no Semanário Independente Região de Rio Maior de 11/01/2016. www.regiãoderiomaior.pt

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A FARSA OU O CUMULO DA HIPOCRISIA



Os deputados Teresa Leal Coelho, Nuno Serra e Duarte Marques (PDS), eleitos pelo circulo eleitoral de Santarém, pedem reunião urgente com o ministro do ambiente devido a poluição no Tejo, nas últimas semanas, noticia o Mirante de 7/01/2015.

Estamos perante uma flagrante e evidente falta de decoro e seriedade política e intelectual, mesmo de oportunismo e descarado populismo demagógico.

O rio Tejo e os seus afluentes à décadas que estão a ser vítimas, das mais variadas agressões que colocam em causa a sua vida, cultura e subsistência das populações ribeirinhas, por exemplo: a mortandade de peixe, a construção de diques que impedem as espécies piscícolas de subir o rio, para desovar, a falta de caudal, devido ao transvase, que origina a salinização das águas do Tejo, etc., com a cumplicidade dos vários governos e do PSD.

O anterior governo (PSD-CDS), sempre que lhe foram apresentadas "provas, evidências da poluição e discutir novas acções que possam vir a inverter este processo de destruição do rio", responderam com políticas e acções que deram cobertura aos crimes ecológicos, contribuindo activamente para o estado actual.

Este não resulta de acontecimentos das últimas semanas, mas antes são resultado de decisões políticas e sociais anteriores, como bem sabem os movimentos ecologistas, cívicos e de cidadania, assim como os ditos deputados.

Por último, os movimentos ecologistas, de cidadania, cívicos e cidadãos singulares, vão continuar a sua acção em defesa do Tejo e seus afluentes e a exigir, ao actual governo, a definição de políticas e medidas concretas, para inverter este processo de destruição dos rios, e da poluição generalizada, do ar, da água e dos solos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O património subterrâneo, a cidadania e a educação

                                                    

O Projecto de Cidadania "Dar a vez e a voz aos Cidadãos", partilha este interessante artigo, escrito por Carlos Carujo, sobre a problemática do património, da cidadania e da educação, a propósito da abertura, no dia 6 de Dezembro, das comemorações do Centenário da Mina do Espadanal, realizadas pela EICEL1920, e publicado no jornal "O Riomaiorense". 
Podem consultar o programa das comemorações e ler um conjunto de artigos relacionados com a história e a defesa do património mineiro, em: www.oriomaiorense.com 


As cidades transformam-se. Não as podemos querer imóveis, paradas no tempo da nossa infância, nem devemos fechar-nos no sonho do regresso a um passado imaginado. Mas também não devemos cair no erro de celebrar a mudança pela mudança, com a febre da modernização desenfreada do eterno presente da moda, um tempo sem passado e sem espessura histórica. Ao exagero regressivo romântico não podemos opor o exagero pseudo-progressista pós-moderno.

A voragem produtivista e capitalista tem sido a principal força motriz da transformação da cidade contemporânea. Assim, tem mandado mais a pressa do lucro do que o cuidado do planeamento. A ela se juntam processos de suburbanização, descaracterização, perda de sentimento de pertença e de vizinhança etc., tendências destruidoras de lugares e de solidariedades. A cidade arrisca tornar-se um espaço cheio de pessoas mas vazio de relações, com algumas fachadas actualizadas segundo a estética preferida no momento mas intrinsecamente feio, atravessado por disfuncionalidades, homogeneizado por um lado mas feito de distinções sociais vincadas por outro.

A contratempo destas transformações encontramo-nos com o património. E é exactamente por isso que é preciso começar por esclarecer que defender o património não implica ficar nessa posição do conservadorismo que procura que tudo fique sempre igual: há coisas que devem mudar, outras que seria bom que permanecessem e as mudanças tanto podem ser para melhor ou para pior. É uma questão de escolhas, ou seja, de políticas públicas.

O que é então isso do património que parece não se encaixar nesta pressão para mudar? O património podem ser muitas coisas diferentes: os monumentos que alguns pensam ser «velharias», os bairros antigos que se procura «modernizar» à força, os espaços naturais que não estão «rentabilizados», as praças desenhadas para serem o espaço comum, lugar de encontros, das controvérsias e das festas. Mas o património é ainda mais do que isso. É o que permite a cidade reconhecer-se nas suas identidades contraditórias e plurívocas, nas suas miscigenações e fluxos de população. O património são ainda as nossas memórias partilhadas, os modos de dizer, de fazer, de criar que guardamos como nossos.

Esta diversidade faz ruir a crença comodista que alguns gostam de cultivar de que não é preciso fazer nada para salvaguardar o património local: o património seria automaticamente imune à força das mudanças porque o seu reconhecimento e defesa seriam consensuais... quando muito discutir-se-ia a sua prioridade no investimento dos dinheiros públicos. Mas se formos para além de uma visão monumental e estreita do património, como é fundamental, descobriremos que a concepção sobre o que pertence a esta esfera de preservação está em discussão permanente. Uma cidade democrática rediscute o que é o seu património. Ao fazê-lo, redescobre-se mais rica e enfrenta desafios mais exigentes.

É importante por isso distinguir. Há um património «domesticado» e fácil, que o poder político gosta de usar na lapela, que se moldou aos interesses económicos do turismo e que, por vezes, é como que forçado a contar uma versão dominante da história que poucos têm paciência e meios para contestar. Esse, não descurando a sua importância, tem habitualmente um lugar cativo na cidade. E, depois, há muitos outros patrimónios esquecidos, insubmissos, subterrâneos. Esses é urgente resgatar porque estão mais ameaçados: não são (re)conhecidos, o seu valor não tem preço, as suas subtilezas e temporalidades próprias são negadas. O passado mineiro de Rio Maior é um bom exemplo de património subterrâneo. Não apenas no sentido em que parte importante da sua história foi o trabalho duro debaixo da terra mas sobretudo no sentido em que se foi sofrendo a sua invisibilização nas consciências e a sua deterioração no espaço da cidade.

O que será preciso fazer para salvaguardar o património que se encontre menorizado? A condição básica é a existência de um poder político democrático, transparente e independente de interesses económicos especulativos. E é fundamental que a este se some a força criativa da cidadania activa, a mobilização dos muitos de que é feita a cidade. Para que esta mobilização aconteça, é preciso que o património seja vivido de alguma forma, que a memória o desvele aos nossos afectos, que o conheçamos e respeitemos. Porque aquilo que não se conhece, não se cuida e poderá assim ser facilmente destruído pela ganância ou pela incúria.

Portanto, este cuidar para que a cidadania está convocada deverá passar necessariamente por um trabalho de estudo e de educação.

Em Rio Maior, a cidadania tem vindo a despertar para a importância do património mineiro que mudou definitivamente a cidade em meados do século passado. Há já muito conhecimento acumulado que pode permitir despertar consciências. Assim sendo, uma das tarefas que se coloca agora será o trabalho educativo sobre este património. Com o património edificado a deteriorar-se e com a lei da vida a continuar a sua acção cega que nos rouba os actores sociais que nos poderiam ensinar mais sobre o passado mineiro, torna-se urgente um plano educativo multidisciplinar para dar a conhecer aos vários níveis educativos do concelho a memória dos trabalhadores, os modelos produtivos, a geologia, o património arquitectónico etc. Todo um currículo local a ser construído participativamente com especialistas, professores, associações e os guardiães destas memórias que poderá permitir que as novas gerações conheçam, cuidem e se mobilizem. É tempo de procurar aprender para depois transformar a cidade para melhor a partir desta memória viva.


Carlos Carujo

EM DEFESA DOS POSTOS DE TRABALHO, NA UNICER.


unicer trabalhadores

FOTO DE ARQUIVO / ILUSTRATIVA
A Comissão de Trabalhadores (CT) da Unicer e vários sindicatos ligados ao sector da alimentação e bebidas marcaram uma greve de 24 horas para o próximo dia 16 de Dezembro.
Em comunicado, a CT, a USS/CGTP-IN, o SINTAB e o SINTICABA anunciam ainda que vão promover uma concentração junto à porta da Unicer, em Leça do Balio, "para que todo o País possa assistir à indignação dos trabalhadores da Unicer e à sua determinação em manter os seus postos de trabalho".
As estruturas representativas dos trabalhadores apelam ainda aos funcionários da Unicer para que "depois de um mês de Novembro quente, prossigam com a luta e que com a unidade demonstrada até agora façam do mês de Dezembro um mês de Natal mas também de luta".
"Não é com prendas envenenadas, como almoços para simular falsos consensos ou até com a incandescência das luzes de Natal que vão silenciar a voz e a razão daqueles que durante anos deram milhões de lucro à Unicer e aos seus acionistas", referem os sindicatos.
Recorde-se a Unicer anunciou em outubro o fecho, em maio de 2016, do Centro de Produção de Refrigerantes de Santarém, também conhecido por fábrica da Rical, e o despedimento de várias dezenas de trabalhadores, justificando a decisão com a "volatilidade da economia" e a "retração de mercados", aliados aos "baixos níveis de utilização da capacidade instalada em Santarém.

Fonte: www.rederegional

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