Por Carlos Carujo
Como se situa Rio Maior face ao apagamento da dicotomia tradicional entre o espaço urbano e o rural? Para que servem as ideias de des-suburbanização e de rurbanização?
Como se situa Rio Maior face ao apagamento da dicotomia tradicional entre o espaço urbano e o rural? Para que servem as ideias de des-suburbanização e de rurbanização?
Refira-se, em primeiro lugar, que não devemos ficar presos a
estes palavrões. Utilizamo-los, aliás, não num sentido técnico mas apenas como utensílios
para introduzir algumas questões sobre o território que funcionem como um ponto
prévio à construção de propostas com o objetivo de melhorar a qualidade de
vida.
O que se entende aqui por des-suburbanizar?
A cidade de Rio Maior corre o perigo de uma suburbanização
no sentido da sua redução a uma cidade-dormitório sem vida própria. Ao mesmo
tempo que as zonas rurais correm o perigo da descaracterização e perda de tradições
sem ganhar nada em troca, de abandono dos campos sem qualquer outra perspetiva
económica viável. Num concelho disperso, corre-se ainda o risco de desarticulação
entre as realidades deste conjunto e de consequente perda de identidade do
próprio concelho.
O termo suburbanização é assim utilizado aqui não no sentido
do processo de criação dos subúrbios tradicionais mas no sentido do processo de
suburbanização ou seja de imposição de um espaço físico e psicológico pouco
vivido coletivamente, pouco agradável, de pouca qualidade, com poucos serviços
públicos e com um parque urbano facilmente degradável.
Daí que, por des-suburbanização, também não entendamos aqui
o processo de retirada de populações das cidades ou dos subúrbios mas sim o
processo de retirada de um certo caráter suburbano das cidades. Trata-se
portanto de uma proposta multifacetada e ambiciosa que implica a inversão dessa
lógica da suburbanização.
É um processo a vários níveis. Um nível nacional que implica
medidas de ordenamento do território para combater por exemplo os
desequilíbrios estruturais entre litoral e interior, que implemente medidas
legislativas nacionais que assegurem a qualidade das construções. Um nível regional/concelhio
que implica políticas criativas que estabeleçam de forma participativa uma
estratégia local ambientalmente sustentável e que desenvolva, por exemplo,
projetos de reabilitação urbana. E um nível mais próximo que vai desde as
associações de bairro e coletivos diversos até aos indivíduos e que implica ações
tão simples como plantar um canteiro que embeleze a sua rua até a iniciativas comunitárias
de construção de espaços de uso coletivo ou de infraestruturas.
O que se entende aqui por rurbanização?
Se o conceito de des-suburbanização se centra nos problemas
da cidade, o conceito de rurbanização centrar-se-á nos problemas das zonas
rurais.
Este conceito é utilizado com (pelo menos) dois sentidos:
1- como fixação de populações de zonas urbanas em espaços
rurais (um movimento que, muito limitadamente, vai em sentido contrário do
êxodo rural do passado);
2- como transformação de algumas zonas rurais que passam a
integrar aspetos do urbano. Um fenómeno de “periurbanização” que integra zonas
mais distantes dos grandes centros urbanos do que os subúrbios tradicionais na
lógica urbana mantendo ao mesmo tempo usos diversos como a agricultura.
Aspetos diversos da mesma realidade, será preciso pensá-los
de forma integrada, aproveitar o melhor da rurbanização e minorar os problemas
que levanta. No sentido de deslocações de populações urbanas para as zonas
rurais com uma vontade de “regresso à terra” poderá constituir uma oportunidade
de revitalização do espaço rural. Desta forma, dados os impasses do projeto de
banco de terras ao nível nacional, talvez fosse vantajoso implementar um banco
de terras ao nível local que atraísse jovens para as zonas rurais. Na mesma
linha de raciocínio, seria uma mais-valia a aposta num gabinete técnico municipal
que ajudasse os pequenos e médios agricultores a desenvolver projetos que
possam ter apoio da União Europeia e que cumpram normas ambientais de alta
qualidade.
No sentido da transformação de funções das zonas rurais
colocam-se questões como a descaracterização do património (o natural, o
construído mas também o rico património humano que se está a perder). A tarefa
será portanto preservar os espaços rurais potenciando o turismo rural sem
tornar estes espaços num museu inabitável.
Por outro lado, a periurbanização implica ainda que há um
conjunto alargado de pessoas a fazer deslocações pendulares a partir das zonas
rurais. Este fator, somado à necessidade de deslocações das populações escolar
e idosa para o centro urbano, leva a um uso do automóvel que é ambientalmente e
economicamente insustentável. Uma rede de transportes públicos no mínimo no
interior do concelho é uma prioridade.
Quanto à articulação entre espaço urbano e rural, esta só
poderá ser uma realidade se, em vez da pequena cidade concorrendo
economicamente e sem projeto com outras cidades vizinhas e esvaziando as
aldeias vilas à sua volta, procurarmos desenvolver as vilas, aldeias e lugares
enquanto comunidades em rede e a cidade enquanto centro de serviços comum e
ponto de encontro. Um ponto de encontro em que rural e urbano não se encontram
apenas no mínimo denominador comum da falta de qualidade de vida mas, pelo
contrário, convivem e potenciam o que de melhor têm.
*Artigo publicado no Jornal Região de Rio Maior
Sem comentários:
Enviar um comentário