António Costa |
«Uma
sociedade só é efectivamente progressista, justa e revolucionária
quando não marginaliza nenhum dos seus filhos. Continua a haver um
25 de Abril por fazer. É preciso continuá-lo!»
Assim
escrevia, no final da década de 90, Luís Carvalho, nosso
conterrâneo que foi membro da Assembleia Municipal, de 1998 a 2002,
quando faleceu precocemente.
Com o 25
de Abril, milhares de portugueses tiveram a perspectiva de
contribuírem na construção de um país onde a justiça social
fosse um dos princípios primordiais; Onde a Democracia adquirisse
condição real. E se aprofundasse com a participação das pessoas
nas decisões políticas de todas as coisas que lhes dizem respeito.
Infelizmente,
desde que Luís Carvalho faleceu, constatamos é que temos vindo a
andar para trás.
Estão a
ser destruídas conquistas históricas como o Estado Social, os
direitos do trabalho. Aumenta a
desigualdade social e a pobreza. Aumenta a
exploração e desemprego... Aumentam
com efeitos dramáticos, também aqui, em Rio Maior.
Num
debate promovido pelo Movimento Projecto de Cidadania, em Fevereiro,
uma operária riomaiorense sublinhou o crescente número de pessoas
que são pobres mesmo tendo trabalho a tempo inteiro. A seu ver, parece
que está a ser criada uma “escravatura dos tempos modernos. Mas,
disse ela, “os seres humanos não foram feitos para serem
escravos”.
Segundo
um inquérito organizado recentemente por alunos da Escola Secundária
de Rio Maior, grande parte dos jovens, como não vêm perspectiva de
futuro, pensam ter que vir a emigrar para conseguir emprego e para
fugir à pobreza.
No debate
promovido pelo Movimento Projecto de Cidadania, uma jovem alertou para o
desperdício que essa emigração representa para Portugal. E afirmou
que “as pessoas têm de ter direito de crescer no próprio país e
não serem obrigadas a emigrar”. Essa
mesma jovem dizia-nos hoje de manhã o seu espanto pela passividade
com que tantas pessoas estão a encarar este estado de coisas. Diz
que Portugal é um país óptimo, com potencial. Mas que é
preciso resgatar o espírito do 25 de Abril, um espírito de mudança,
de melhorar a realidade. Diz que chegámos ao estado em que nos
encontramos por se ter abandonado esse espírito do 25 de Abril.
O 25 de
Abril é um exemplo de que é possível as pessoas participarem e
transformarem o mundo em que vivem.
É
preciso que os trabalhadores e os cidadãos em geral experimentem
outras opções de voto e lutem colectivamente pelos seus direitos.
Cabe às
cidadãs e aos cidadãos comuns, em particular aos que produzem a
riqueza, assumirem as suas responsabilidades, tomarem a palavra e
intervirem nos destinos do país.
Como
sinal de inconformismo e esperança, termino com um poema de uma
jovem riomaiorense, Inês Ferreira:
Tudo
estremece
O mundo
enlouquece,
Lá fora o
povo grita,
Cá dentro
tudo estremece...
Eles dão
o corpo e mostram-se por todos nós,
Eles
revoltam-se enquanto nos acomodamos cá dentro a vê-los através da
janela ou da televisão.
Enquanto
as suas cordas vocais vibram,
Os seus
corações batem à velocidade da luz
E os
cartazes se agitam,
Nós
fazemos mais um “zapping”,
Alguns
dizem “que bem” outros dizem “que mal”.
Eles vão
gritando,
Quando
riem e cantam, os outros julgam ser de felicidade,
mas é
mera ironia.
Eles
cantam e riem sem nunca ficar sem voz.
Nós
voltamos a mudar de canal,
Mas eles
gritam por nós...
* Discurso em representação do Movimento Projeto de Cidadania, proferido por António Costa na sessão solene do 39º aniversário do 25 de Abril promovida pelo Município de Rio Maior.
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