quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de Abril: inconformismo e esperança

António Costa
«Uma sociedade só é efectivamente progressista, justa e revolucionária quando não marginaliza nenhum dos seus filhos. Continua a haver um 25 de Abril por fazer. É preciso continuá-lo!»

Assim escrevia, no final da década de 90, Luís Carvalho, nosso conterrâneo que foi membro da Assembleia Municipal, de 1998 a 2002, quando faleceu precocemente.

Com o 25 de Abril, milhares de portugueses tiveram a perspectiva de contribuírem na construção de um país onde a justiça social fosse um dos princípios primordiais; Onde a Democracia adquirisse condição real. E se aprofundasse com a participação das pessoas nas decisões políticas de todas as coisas que lhes dizem respeito.

Infelizmente, desde que Luís Carvalho faleceu, constatamos é que temos vindo a andar para trás.

Estão a ser destruídas conquistas históricas como o Estado Social, os direitos do trabalho. Aumenta a desigualdade social e a pobreza. Aumenta a exploração e desemprego... Aumentam com efeitos dramáticos, também aqui, em Rio Maior.


Num debate promovido pelo Movimento Projecto de Cidadania, em Fevereiro, uma operária riomaiorense sublinhou o crescente número de pessoas que são pobres mesmo tendo trabalho a tempo inteiro. A seu ver, parece que está a ser criada uma “escravatura dos tempos modernos. Mas, disse ela, “os seres humanos não foram feitos para serem escravos”.

Segundo um inquérito organizado recentemente por alunos da Escola Secundária de Rio Maior, grande parte dos jovens, como não vêm perspectiva de futuro, pensam ter que vir a emigrar para conseguir emprego e para fugir à pobreza.

No debate promovido pelo Movimento Projecto de Cidadania, uma jovem alertou para o desperdício que essa emigração representa para Portugal. E afirmou que “as pessoas têm de ter direito de crescer no próprio país e não serem obrigadas a emigrar”. Essa mesma jovem dizia-nos hoje de manhã o seu espanto pela passividade com que tantas pessoas estão a encarar este estado de coisas. Diz que Portugal é um país óptimo, com potencial. Mas que é preciso resgatar o espírito do 25 de Abril, um espírito de mudança, de melhorar a realidade. Diz que chegámos ao estado em que nos encontramos por se ter abandonado esse espírito do 25 de Abril.

O 25 de Abril é um exemplo de que é possível as pessoas participarem e transformarem o mundo em que vivem.

É preciso que os trabalhadores e os cidadãos em geral experimentem outras opções de voto e lutem colectivamente pelos seus direitos.

Cabe às cidadãs e aos cidadãos comuns, em particular aos que produzem a riqueza, assumirem as suas responsabilidades, tomarem a palavra e intervirem nos destinos do país.

Como sinal de inconformismo e esperança, termino com um poema de uma jovem riomaiorense, Inês Ferreira:

Tudo estremece



O mundo enlouquece,

Lá fora o povo grita,

Cá dentro tudo estremece...

Eles dão o corpo e mostram-se por todos nós,

Eles revoltam-se enquanto nos acomodamos cá dentro a vê-los através da janela ou da televisão.

Enquanto as suas cordas vocais vibram,

Os seus corações batem à velocidade da luz

E os cartazes se agitam,

Nós fazemos mais um “zapping”,

Alguns dizem “que bem” outros dizem “que mal”.

Eles vão gritando,

Quando riem e cantam, os outros julgam ser de felicidade,

mas é mera ironia.

Eles cantam e riem sem nunca ficar sem voz.

Nós voltamos a mudar de canal,

Mas eles gritam por nós...

* Discurso em representação do Movimento Projeto de Cidadania, proferido por António Costa na sessão solene do 39º aniversário do 25 de Abril promovida pelo Município de Rio Maior.

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