sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Um riomaiorense no «Liberdade 2012»

Por Daniel Carvalho

Foi no passado mês de julho, em S. Pedro do Sul, que se reuniram dezenas de jovens de todo o país no acampamento anual do Bloco de Esquerda ‘Liberdade’.

Diretamente de Santarém, e acompanhado de dois rio-maiorenses, marquei presença nos vários debates que decorreram nos dias 26 a 30. Um espaço sociopolítico, destinado à troca de ideias e à integração social numa comunidade livre (tal como o nome do evento sugere) de autogestão e sem preconceito.

1º dia – 26 de julho. Depois de uma viagem atribulada e um pouco cansativa, chegamos ao local pelo fim da tarde e com expectativas em alta! Conseguimos conhecer algumas pessoas, e ainda assistir ao debate sobre ‘Feminismo’. Notava-se neste espaço informalidade e descontração tendencial ao falar do tema, explorando assim uma vista pessoal e individual sobre o papel da mulher na sociedade. Há uma maior aproximação e interação participativa e integrativa, especialmente para quem apareceu no acampamento pela primeira vez, o nosso caso!
Jantámos às 20h; e, uma hora depois, devido a falhas técnicas, vimos um filme que não vinha no ‘menu’: ‘A Mulher Invisível’, um filme sem qualquer ligação intrínseca com a política onde um homem fantasia namorar com uma mulher fruto da sua imaginação. Às 23h partimos para a festa temática ‘Woodstock e Rock n Roll’ na Discoteca, onde estivemos pouco tempo devido ao cansaço!

2º dia - 27 de julho. Aqui começa verdadeiramente a jornada! Infelizmente já falhámos o tão elogiado pequeno-almoço, mas mesmo assim partimos para o primeiro debate do dia: ‘Movimentos Sociais’; José Soeiro explica como os movimentos sociais são a principal força de mudança inconformista no contexto político e social de um país, e como esses movimentos unificam a população com os mesmos interesses comunitários de uma democracia justa e fértil.

A seguir ao almoço assistimos a um debate com Carlos Santos: ‘Revoluções Árabes’; falou-se das revoluções atuais no médio oriente, nomeadamente na Líbia e na Síria, as suas origens, os efeitos secundários das intervenções militares nas mesmas e as possíveis consequências para Portugal.
Um pouco depois, nessa tarde, decidimos ‘fugir’ do acampamento. E, a seguir a um passeio na serra e a um saltinho na piscina, apercebemo-nos de que estávamos perante uma paisagem única! Muito rochosa e realmente ‘verde’. Uma vista que, infelizmente, não chega a todos os ribatejanos. Mas, para atenuar essa felicidade, não houve projeção de filme nesse dia, em vez disso, falaram-nos antecipadamente da festa que viria em seguida na discoteca.
Foi às 23h, na Discoteca, que decorreu a festa LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), uma festa destinada aos direitos LGBT, onde se realizaram pequenos jogos em que só participava quem queria e onde a homofobia e o preconceito eram ridicularizados através da dança e do convívio de todos! Na discoteca o ambiente não era de crise nem nada que se parecesse: afirmava-se a liberdade sexual como ela deve ser afirmada!

3º dia - 28 de julho. Com algumas dores de cabeça, e falhando novamente o pequeno-almoço, fomos diretamente da tenda para o espaço plenário para ouvir Luís Fazenda e o seu debate sobre o ‘Tempo e Modo dos Partidos de Esquerda’. O professor e deputado do BE falou, cronologicamente, dos partidos de esquerda (nomeadamente Bloco de Esquerda, PCP e PS), da sua origem, da sua importância política e social, da sua inserção na atualidade e de como a sua potencialização pode ser benéfica para o nosso país e para o mundo. Colocaram-se várias perguntas e houve uma boa aderência ao debate, assim como em todos os debates deste acampamento.
Partimos agora para a discoteca com o debate sobre ‘Música e Revolução’: um debate muito dinâmico, envolvente, informal e, como sempre, participativo. Houve espaço para todos se ouvirem e para uma troca mais eficiente de ideias num debate muito saudável, feito de e para jovens, com espaço a debater a seleção das músicas nas festas do próximo acampamento.
17h da tarde e ainda conseguimos apanhar o debate sobre ‘Capitalismo depois da Crise’ com Mariana Mortágua. A economista mostra os seus vastos conhecimentos quando expõe a situação trágica do modelo financeiro português e da crise de 2007 em diante, assegurando assim que o capitalismo atual não é solução e que a rutura no sistema económico português é um obstáculo incontornável ao desenvolvimento do país. São apresentadas várias situações bancárias a nível internacional que podem e devem (!) ser adotadas por Portugal (o referido caso do Japão por exemplo).
A noite, a seguir ao jantar, foi discutido o posição da Troika, a sua soberania perante a Zona Euro e as eventuais privatizações gregas do caminho-de-ferro, eletricidade e da água no filme ‘Catastroika’, um filme atual e interessante que conta com a presença de vários pensadores, filósofos e políticos.
Mas quando o sono de um longo filme aperta, nada melhor que uma festa temática na discoteca: ‘Se eu não posso Dançar esta Não é a Minha Revolução’ foi o tema desta 3ª noite no acampamento, desta vez sem contexto sexual ou rock n roll, a discoteca conseguiu abranger vários estilos de música diferentes e sem limites sociais. Com muita gente e pouca preocupação.

4º dia – 29 de julho. Último dia de debates. Acordamos com boa música e com o aviso de abertura do primeiro debate do dia: ‘A Alternativa de Esquerda e a Crise Europeia’ com a Eurodeputada Marisa Matias, chegamos tarde ao encontro, e a dor de cabeça permanecia, mas conseguimos acompanhar: Tendo em conta a crise que afrontamos na Zona Euro, Marisa contextualiza a ‘alternativa de esquerda’ como a criação ou o aperfeiçoamento de políticas de esquerda que enfrentem e solucionem a dívida soberana europeia: como é que a unificação pode ser potencializada? Até que ponto é que a esquerda é a solução? Foram alguns dos pontos discutidos. Neste debate foram convidados representantes da Coligação da Esquerda Radical SYRIZA da Grécia, que defendem teorias semelhantes quanto à crise europeia e quanto às soluções que acham ser as melhores. A partilha de ideias que vêm de pessoas de sítios e contextos semelhantes: Portugal e Grécia, faz com que a eventual defesa destes dois países, uma para com o outro, faça mais sentido, esteja mais perto da realidade e seja ‘imaginável’ a sua relação, não só política como partidária.
A seguir ao almoço deu-se o Plenário do Ensino Secundário: um encontro que agrupou maioritariamente estudantes do secundário (eu inclusive), e onde se discutiram as presentes situações das diferentes escolas do país, desde a Direção ao Refeitório, passando pelas Associações de Estudantes, que foram tanto alvo de objeções como de elogios. Ficou também proposta a criação de uma diretiva de estudantes do secundário tendo por base as redes sociais (a forma mais fácil de contacto).
Antes da última refeição, fomos convidados para a festa ‘Lusco-fusco’ no sítio do costume (discoteca) que há quem dissesse ser ‘6, 7 minutinhos’. A seguir ao jantar, assistimos ao filme ‘The Pervert’s Guide To Cinema’, apresentado pelo também ribatejano Bruno Góis, onde o filósofo Slavoj Zizek expõe o seu olhar lógico e racional perante cenas famosas do cinema e onde o seu pensamento é acompanhado de um rigor único e inconveniente. Um Filme muito Curioso!
Sem sair do local, foi tempo de nos ser apresentado o ‘Teatro do Oprimido’: uma peça interativa interpretada por quem quisesse (e que fosse aos ensaios), com duas cenas distintas onde a plateia podia opinar à vontade e tinha também a possibilidade de intervir e recriar a estória de modo a mudá-la, um momento de diversão da noite. Logo depois foi feito o balanço do ‘Liberdade’ deste ano: o acampamento agrupou mais 200 jovens de todos os distritos do país, dos Países Bascos, Grécia, Espanha, França e Arquipélagos. São também aceites novas propostas para os próximos anos desde programas, espaços, workshops, entre outros.
Nada melhor para encerrar um acampamento deste género do que com os ‘Marx House Mafia’, um trio de Djs com uma seleção de músicas interventivas e politicamente à esquerda, com muita diversão e certamente para deixar a malta com água na boca para o que se vai passar em 2013!

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