segunda-feira, 17 de maio de 2010

A ruralidade enquanto motor de desenvolvimento para Rio Maior



Por Carlos Carujo

O novo orçamento municipal de Rio Maior parece ser tudo menos novo.
Não apresenta qualquer novidade e parece limitar-se a aumentar as verbas para a Empresa Municipal de Desporto, mostrando assim que o actual executivo ou não tem uma estratégia de desenvolvimento a médio e a longo prazo ou aposta, sem o declarar abertamente, em manter a estratégia do executivo anterior.
Isto quando, na realidade, a estratégia da “cidade desportiva” parece estar a esgotar o seu potencial de desenvolvimento não parecendo ter energia suficiente para puxar pela cidade quanto mais por um concelho inteiro. Aliás, é aqui que bate boa parte da questão: uma das suas limitações é que partia de uma lógica territorial que acentua a divisão entre centro/periferia, entre a cidade beneficiada e as zonas rurais abandonadas a si próprias ou que, na melhor das perspectivas, deveriam ser beneficiadas por arrastão do desenvolvimento urbano. E se a cidade pretendeu ser uma cidade desportiva, o concelho esteve sempre longe de ser um concelho desportivo.
Invertendo os termos, repensar o desenvolvimento do concelho de Rio Maior é colocar no centro das preocupações as questões periféricas: o que significa hoje esta ruralidade que mistura traços contemporâneos e globalizados com formas de viver e de pensar ancestrais e que modelo de desenvolvimento não urbano deve ser promovida nestas zonas quando grande parte dos preconceitos existentes partem das equações “rural = não desenvolvido” e “desenvolvimento = urbanização”?
Colocar estas questões não é sinónimo de sonhar utopicamente que o que agora é miscigenação deve voltar à força a uma pureza rural que nunca terá existido ou que rimaria com pobreza. Colocar estas questões não é sinónimo de capitular perante um “very tipical” de fachada, bom para se ver e visitar mas que só presta para os outros morarem. Mas, na verdade, é preciso olhar de um outro ponto de vista e ver que grande parte da riqueza de Rio Maior se encontra onde os responsáveis
autárquicos não querem ver: nas zonas rurais. Uma riqueza que é, em primeiro lugar, uma mais-valia humana que não se pode perder: um património feito de tradições e de saberes que vão desaparecendo com as gerações mais idosas. Uma riqueza que, em segundo lugar, se pode traduzir em qualidade de vida promovendo o turismo rural e as
mais-valias paisagísticas, as formas agrícolas de alta qualidade e respeitadora do ambiente e as mais-valias ambientais, a força das vivências comunitárias e da economia social.
Assim, é preciso alterar a paisagem mental para melhorar a paisagem vivida. Em vez da pequena cidade concorrendo economicamente com outras cidades e com umas aldeias e lugares à volta, é preciso pensar em aldeias e lugares enquanto comunidades em rede com uma cidade enquanto centro de serviços comum e ponto de encontro. A cidade em que as ruralidades convivem sem serem excluídas ou menorizadas.

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