quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Bloco questiona situação do Castro de S. Martinho

Catarina Martins
A deputada Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, apresentou na Assembleia da República uma pergunta, ao Secretário de Estado da Cultura sobre a situação do Castro de S. Martinho:

«O Castro de S. Martinho é um povoado fortificado, da Idade do Bronze/Idade do Ferro, com três linhas de muralhas, que se localiza a uma cota máxima de altitude de 300m, no cume do Monte de S. Martinho, entre os lugares de Casal da Velha e Teira, Freguesia de Alcobertas, Concelho de Rio Maior.

Em 1958, no I Congresso Nacional de Arqueologia, o Castro de S. Martinho é assinalado como local onde foram encontradas peças de elevado interesse (Paço, et al. 1959, 287). Em 1962, os mesmos investigadores, no XXVI Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, dedicam a comunicação apenas a uma peça encontrada no Castro de S. Martinho e na publicação avisam: “bem merecia que se cuidasse dele a sério, estudando-o conscienciosamente, não o transformando em «mina» para recolha de objectos”(Paço, et al. 1962). Na Revista de Guimarães em 1978 é publicado um artigo sobre o espólio arqueológico de Rio Maior, onde novamente é registada a importância de uma escavação arqueológica do sítio (Almeida, 1978, 398). 

Recriação imaginária de como seria o Castro de S. Martinho
Em 2008, o arqueólogo Carlos Pereira, funcionário da Câmara Municipal de Rio Maior, ressalva que o Castro de S. Martinho “nunca mereceu uma atenção prolongada por parte dos diversos investigadores que visitaram ou se propuseram a efectuar o seu estudo sistemático, não passando de recolhas de superfície e alguns trabalhos pontuais”. Mas relata que, mesmo assim, “no decurso dos trabalhos arqueológicos, até ao momento realizados, foi recolhida uma grande quantidade de espólio, quase exclusivamente cerâmico, integrável em diversos períodos que vão da Idade do Bronze, Idade do Ferro, Romano, Medieval Islâmico e/ou Medieval Cristão e de eras mais recentes”. Em 2008 foram também assinaladas, “as primeiras estruturas castrejas (parte de uma parede e muralha da Idade do Bronze / Idade do Ferro), mas os trabalhos estão apenas no início” (Pereira, 2008).

Para além da sua relevância científica ainda tão inexplorada, o Castro de S. Martinho, que possui uma extensa vista panorâmica, com um raio de alcance visual para Santarém, Serra de Montejunto e Serra de Aire, apresenta também um grande potencial para se tornar um polo de atracão turística, associado ao conjunto de património edificado da freguesia de Alcobertas, nomeadamente o Dólmen, a Gruta, o forno e os Silos Medievais. E em ligação também ao património natural do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros.

É assim particularmente lamentável que, como alerta o Portal do Arqueólogo, da Direção Geral do Património Cultural, a estação arqueológica do Castro de S. Martinho se encontre em “perigo”, porque “ameaçada”por uma pedreira “que labora no lado Oeste do sítio”.

O supracitado arqueólogo Carlos Pereira relata que “ao longo dos anos, este local tem vindo a ser alvo das mais diversas delapidações, desde a abertura de uma estrada florestal, cortando parte do sítio, cultivo de produtos agrícolas, plantação de eucaliptos e ainda a abertura de uma pedreira, a qual já consumiu uma parte significativa do Castro. Para além dos “ataques” de curiosos e “caçadores de tesouros” (ibidem).

Segundo este técnico do Município de Rio Maior, no início dos anos 1980, o executivo camarário, “tendo noção da importância deste sítio para a identidade desta região, encerra uma extracção de inertes, situada a meio da encosta E, estabelece uma cota altimétrica (curva de nível 275) como linha de limite de protecção ao castro e inicia, ainda, o cadastro dos proprietários deste cabeço para levar a efeito um processo de expropriação das parcelas situadas acima desta linha. Em 26 de Junho de 1981 estava concluído o levantamento dos proprietários e das respectivas áreas a serem expropriadas”. Porém, “este processo não foi continuado pelos executivos seguintes”. E “com a abertura da pedreira “Teira” na encosta W, inicia-se uma nova fase de perturbação deste sítio”. Em 1998, “os limites de segurança aos trabalhos de extracção de inertes tinham sido largamente ultrapassados” e perante “a existência de graves problemas de estabilidade, com a ocorrência de escorregamentos, o proprietário (…) tomou a iniciativa de terminar o avanço da actividade extractiva nesta frente”. Mas terá sido tarde demais: “os trabalhos de lavra já tinham provocado estragos irreversíveis em áreas com espólio arqueológico, situação agravada por diversos escorregamentos do terreno em toda a frente, causados por factores diversos (vibrações, águas pluviais, pendente da encosta, etc.)”. (ibidem)

Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do Secretário de Estado da Cultura, a seguinte pergunta:

Que medidas estão previstas ou em vias de aplicação, e qual o seu prazo de execução, para permitir e assegurar que o Castro de S. Martinho, localizado em Alcobertas, concelho de Rio Maior, possa ser devidamente preservado, estudado e aproveitado para o desenvolvimento cultural, turístico e económico da região onde se insere?»

Notícias do Ribatejo:
"Rio Maior: Bloco de Esquerda questiona situação do Castro de S. Martinho"

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"Bloco questiona situação do Castro de S. Martinho"


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"Rio Maior. BE questiona situação do Castro de S. Martinho"

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