terça-feira, 3 de maio de 2011

Portugal, 37 anos depois do 25 de Abril

Visto por Henrique Fialho, escritor riomaiorense

Andamos há 37 anos a comemorar uma revolução que ainda não aconteceu verdadeiramente. Esmagados por uma guerra inglória, os militares revoltaram-se contra o regime e desbravaram caminho para a democracia. Cedo se percebeu o que nos esperava: uma oligarquia a ir a votos de 4 em 4 anos, dividida entre duas facções políticas que são mais do mesmo. Soares entregou-nos a uma Europa agora americanizada, de socialismo não só engavetado como totalmente enterrado e sem direito a memorial. Em França, mãe da Revolução de todos nós, há trabalhadores que se imolam, suicidam-se à vez sem grande alarido. Por cá, o nepotismo faz escola e os crápulas jogam com a cintura na ânsia de um tacho. A baba é tanta que daria para fazer um cozido à portuguesa com morcelas de socialismo, enchidos de social-democracia e alheiras de populismo. No batatal do cavaquistão há batatas que cheguem para todos e para quem se lhes queira juntar. Construíram-se auto-estradas, vias rápidas para o enriquecimento indevido, engordaram-se fortunas e patrocinaram-se cartéis. O PPD de Duarte Lima, Santana Lopes, Dias Loureiro, entre outros larápios de estirpe intocável reunidos na cantina do BPN, leia-se SLN, prepara-se novamente para fazer das suas, enquanto o PS do Grande Chefe, dos estádios e do Rui Pedro Soares e do Ricardo Rodrigues e do Freitas do Amaral e do Basílio Horta vai distribuindo o que resta da côdea governativa. Uma elite política de merda, aos ombros de uma elite empresarial de merda, num país a afundar-se na merda com um povo que de tanto gostar de viver na merda mais se assemelha a uma vara de porcos do que a um verdadeiro povo. Mas animemos a malta, recordemos as velhas canções, olhemos para o passado, desfilemos na Avenida da Liberdade de açaime na boca e coleira pelo pescoço. O FMI tratará de nós como o Frontline trata das pulgas. Amemos os nossos patrões.

(retirado do blog Antologia do Esquecimento)

1 comentário:

  1. Aqui está um retrato real deste país.
    Não tenho nenhum rebuço em subscrever e poderei acrescentar; quem nos quer fazer querer que se deu uma revolução em portugal, por mais bem intencionado que seja, está a contribuir para, no minímo, incutir uma ideia errada do que é uma revolução.
    É imperioso, vai sendo tempo de falar claro, num pequeno período de tempo foram levado a cabo dois golpes de estado, intermeados por várias tentativas goradas, numa delas foi assassinado, pelas forças político-militares lideradas pelo Spínola, o soldado Luís (11 de Março de 1975), ao bombardearem o RAL1.
    O primeiro, foi em 25 de Abril de 1974, o segundo deu-se em 25 de Novembro de 1975 e, grosso modo, o que os diferencia é, essencialmente, a participação activa e corajosa da cidadania, dos trabalhadores, que sairam à rua, constituiram comissões de trabalhadores, de moradores, administrativas nos sindicatos, nas freguesias, etc., contrariando as ordens emanadas pelo comando do MFA (Movimento das Forças Armadas).
    Em Novembro foi o oposto, foi imposto o recolher obrigatório, o estado de sítio, foram presos e perseguidos os mais envolvidos e comprometidos com a implementação de uma democracia "do povo, para o povo e pelo povo".
    Foram reabilitados e condecorados os criminosos fascistas e todos os responsáveis políticos, financeiros e as famílias suporte da ditadura.
    Em suma: os detentores do poder político, financeiro e económico da ditadura fascista, retomaram e reforçaram, paulatinamente, o poder, que foi posto em causa em Abril, com Novembro, sem necessidade de recorrer à ditadura política.

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